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A VIDA SOCIAL DA COMUNIDADE PAULINA.

  • Foto do escritor: Antonio de Oliveira
    Antonio de Oliveira
  • 22 de fev. de 2019
  • 16 min de leitura

Atualizado: 10 de jul. de 2023


Conhecer a vida social da comunidade paulina possibilitará a verificação das responsabilidades entre seus membros e, uma leitura nas cartas dirigidas aos membros destas comunidades, indicará alguns dos perfis adotados para seu desenvolvimento. Haja vista que, Paulo era um homem talentoso, e seu ministério abrangente e eficaz, foi grandemente ajudado pelo fato de que ele transitava bem em três mundos; o judeu, o helenista e o romano (MORRIS, 2003).


A fim de descobrir o que movia a construção da comunidade paulina no mais íntimo de seu ser, é preciso perscrutar, ainda que de uma forma sucinta, a vida do apóstolo Paulo, e inserir suas afirmações teológicas em contexto social e histórico para uma compreensão melhor das comunidades cristãs ligadas a ele. Se, pois, o significado de Paulo no contexto da evolução dos pensamentos das primeiras comunidades primitivas reside em que ele foi o primeiro teólogo, tal fato inegável, contudo, não deve fazer com que leia-se todas as cartas paulinas para compreender a responsabilidade social das primeiras comunidades cristãs ligas ao apóstolo Paulo (KÜMMEL, 2003).


A CONVERSÃO DO PERSEGUIDOR DA COMUNIDADE CRISTÃ.

No livro de Ato dos Apóstolos, o autor descreve três vezes a virada na vida de Paulo, do perseguidor para o anunciador do evangelho, e sinaliza com isso a importância da época desse acontecimento (cf. Atos 9:3-19; 22:6-16; 26:12-18). Embora a base de Atos 9:3-19 deva ser uma antiga narrativa sobre Paulo proveniente da comunidade damascena, segundo a qual, perto de Damasco, o perseguidor dos cristãos, fora levado a um novo conhecimento de Jesus Cristo, através do brilho de uma luz celestial, e seus companheiros o conduziram até Damasco (cf. Atos 9:11).


Embora a conversão de Paulo seja retratada em Atos dos Apóstolos e lembrada por ele, conforme o seu próprio relato reiterado (DUNN, 2011), a primeira relação de Paulo com o jovem movimento cristão foi a de perseguidor. “Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus.” (1 Coríntios 15:9). Mas, com rapidez surpreendente, o perseguidor da comunidade cristã se tornou um apóstolo de Jesus Cristo. Ele estava totalmente tomado da ideia de ser um zelote da lei, dedicado a erradicar uma praga que estava ameaçando a vida da comunidade israelita, quando em suas próprias palavras, foi “conquistado por Cristo Jesus” (Filipenses 3:12) e constrangido a dar meia volta e se tornar um guerreiro da causa que, até aquele momento, ele estava se esforçando a exterminar, dedicando-se dali em diante edificar o que estivera fazendo para demolir (BRUCE, 2003).


Segundo Gerad Theissen (2009), sua conversão e vocação vai matizar necessariamente a maneira pela qual ele vai representar a obra comum, da qual ele é dos principais executores. A conversão e a vocação de Paulo são, por conseguinte, a tomada de uma posição social completamente nova; ele passa de perseguidor dos cristãos a missionário do grupo perseguido por ele. Ele aceita, no âmbito intra-humano, pessoas que até então não havia aceitado – presumivelmente, justo pelo fato de eles terem-se aberto muito mais aos estranhos do que ele considerara como legítimo até então (THEISSEN, 2009).


Foi neste contexto e neste nível que ocorreu em primeiro plano, a conversão de Paulo a Cristo e a sua vocação. Günther Bornkamm (2009), em “Paulo: vida e obra” fala da conversão de Paulo a Cristo e da sua vocação ao apostolado, o próprio Paulo fala surpreendentemente pouco. Quando o faz, é sempre dentro de uma importante declaração e sempre de tal modo que aquele discurso se entrelace intimamente na exposição de suas cartas. Em vista disso, não se deveria colocar provalentemente no centro as suas experiências individuais e especialmente a aparição de Cristo que lhe aconteceu, e que costumeiramente é lembrada como a cisão de Damasco, descrita nos Atos dos Apóstolos.


Assim, pois, a visão que o próprio Paulo tinha de sua conversão não era uma conversão como tal (DUNN, 2011), numa passagem autobiográfica (cf. 1 Coríntios 9:16-17), Paulo concebe a intervenção divina não apenas como uma obra de conversão, mas como uma vocação e um chamado a uma missão como bem escreveu ele na carta aos Gálatas: Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue, nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco (Gálatas 1:15-17).


Assim sendo, o episódio que aconteceu com Paulo, a caminho de Damasco pode ser interpretado como um chamado de Deus, uma vocação a uma missão entre os gentios dando continuidade a construção de uma nova comunidade cristã (CERFAUX, 2003).


A CONSTRUÇÃO DA COMUNIDADE PAULINA

A construção da comunidade paulina abre um novo e importante capítulo da história do cristianismo primitivo. O livro de Atos dos Apóstolos confirma isso com toda evidência. A narrativa dos Atos dos apóstolos é um testemunho importante da relevância de Paulo nas comunidades cristãs presentes em ambiente citadino e helenizado. Viviam um profundo laço de fraternidade e senso de responsabilidade social. As estruturas de autoridade formavam os serviços dentro da comunidade, sobre a ação do Espírito Santo (KREUTZ, 1989). De acordo com David J. Bosch (2002), a narração transcorre rapidamente até chegar aos acontecimentos nas cidades e confirma a importância de cada igreja fundada nas cidades por onde passava. As igrejas resultantes da missão paulina localizam-se em mundo dividido culturalmente (gregos e bárbaros), religiosamente (judeus e gentios), economicamente (ricos e pobres) e socialmente (livres e escravos). Mas tudo acontece a partir da conversão de Paulo, que passa de perseguidor do cristianismo a perseguido por defender sua fé no Cristo ressurreto.


Após a conversão dos apóstolos que definiram os rumos dos conflitos em Antioquia e da separação de Barnabé, Paulo inicia sua imensa atuação missionária independente. Ele rompe com delimitação da missão antioquena para as regiões da Palestina, da Síria e do Sudoeste da Ásia Menor e volta-se para o anúncio da mensagem cristã no oeste da Ásia Menor e na Grécia. Ele leva o evangelho para os centros culturais do mundo daquela época construindo novas comunidades (SCHENELLE, 2010).


O narrador de Atos dos Apóstolos reserva a maior parte do conteúdo do seu livro para narrar a atividade missionária, a pregação, as perseguições e as prisões de Paulo. As Cartas Paulinas e os Atos dos apóstolos permitem em alguns momentos perceber como a missão e a construção das novas comunidades aconteciam concretamente. Paulo anunciava o evangelho não só nas sinagogas locais, mas também em casas privadas (cf. Atos 18:7ss; 20:7-10; 28:30-31; Romanos 16:23), em praças públicas (cf. Atos 17:17-34) e na prisão (cf. Atos 28:30; Filipenses 1:12ss; Filemom). Ele alugava salas públicas (cf. Atos 19:9 ss) e finalmente, também o contato estreito com os colaboradores servia ao anunciamento do evangelho, pois eles eram formado por Paulo para atuar por sua vez como líderes nas novas comunidades.


Günther Bornkamm (2009), designa a participação de colaboradores nas novas comunidades construídas por Paulo: certamente, as comunidades das quais ele se afastava não lhe eram, de modo algum, indiferentes. Suas epístolas dão testemunho do grande apreço que lhes dedicava. Foi preciso, porém, confiar o atendimento continuado destas novas comunidades a seus colaboradores, restringindo a sua atenção tão-somente através dos seus escritos epistolares e através de eventuais visitas passageiras. Isso porque o seu objetivo de levar as boas novas até os confins da terra mantinha-o sempre em movimento e inquietação. Em tal narrativa permite perceber a importância que a atividade paulina teve e continuava tendo nas comunidades que ele fundou ou que foram influenciadas por sua vida e pregação, bem como manifesta a relação de Paulo com outros apóstolos, presbíteros e colaboradores (BORNKAMM, 2009).


Continuando a construção de uma “nova comunidade”, é possível perceber segundo o quadro descritivo elaborado por Wayne Meeks (2011), pessoas unidas de vários níveis sociais numa camada mista: por vários motivos, a escolha mais satisfatória compreende a extensa atividade missionária de Paulo de Tarso e de amplo círculo de colaboradores e de comunidades que ele estabeleceu em cidades ao longo da parte nordeste da baia mediterrânea. Antes de mais nada, ele é intrinsecamente fascinante. Em segundo lugar, constituem o segmento do movimento cristão primitivo mais bem documentado nas cartas paulinas. Essas cartas são escritos cristãos mais antigos existentes.


As cartas paulinas revelam a unidade mista por meio de uma relação e linguagem que falam dos cristãos como sendo um grupo muito especial e das relações entre eles em termos carregado de emoção e inclusão, o que é observado por diversas vezes quando os destinatários são chamados de santos, eleitos, amados, irmãos e irmãs, filhos (MEEKS, 2011). Estes termos propõem a unidade e igualdade entre os membros na formação da Eklesia, mesmo com as diferenças sociais apresentadas entre eles.


As discussões em torno da compreensão social dessa comunidade não são recentes. Em 1909 Deissmann (apud Meeks, 2011) posicionou os escritores no Novo Testamento como pertencentes às classes mais baixas, incluindo a Paulo nesta categoria. Há mais de setenta anos Floyd Filson (1939 apud Meeks, 2011) afirmou que a igreja apostólica era “um setor de oposição dentro da sociedade”. Quanto às classes superiores, E. A. Judge, (1960 apud Meeks, 2011) aponta que “os patronos locais aderiram a seus dependentes sociais”. Já para Robert M. Grant (2006, p.99), a organização hierárquica dessa sociedade havia ocorrido de cima para baixo. Malherbe (1977 apud Meeks, 2011) apresenta pontos significativos e relevantes colocando Paulo e alguns membros num patamar mais elevado que geralmente se é afirmado.


Destarte, no decurso de sua atividade literária, sem jamais variar, Paulo afirma o laço profundo que une sua vocação à entrada dos gentios na comunidade cristã (CERFAUX, 2003). Com base nas evidências prosopográficas do registro de cerca de oitenta pessoas citadas direta e indiretamente como membros das comunidades, companheiros de viagens, líderes ou auxiliares, Wayne Meeks (2011), propõe a análise do contexto social dessa comunidade com base nos registros das cartas dirigidas a elas. Em função da delimitação deste trabalho apenas algumas destas citações serão mencionadas: Na narrativa paulina e de seus colaboradores escrito no primeiro século, cerca de sessenta e cinco pessoas além de Paulo são mencionadas pelo nome ou, de qualquer maneira, identificadas como membros atuantes das comunidades locais, companheiros ou agentes pastorais, ou ainda como ambas as coisas. Alguns desses também são mencionados em Atos dos Apóstolos, livro que acrescenta outros treze nomes e uma família anônima. Assim, nos é possível esboçar uma prosopografia do cristianismo paulino contendo cerca de oitenta nomes.


Lúcio (cf. Atos 13:1) era um judeu; Evódia e Síntique (cf. Filipenses 4:2s) nomes gregos de prováveis comerciantes; Tércio, um possível escriba, aparece como um latino entre os cristãos em Corinto (cf. Romanos 16:22); um médico chamado Lucas (cf. Colossenses 4:14). Gaio (cf. 1 Coríntios 1:14) parece ter um casa grande o bastante para hospedar Paulo e outros grupos com evidentes riquezas. Estéfanas possuía independência financeira para prestar serviços e gozar do reconhecimento social. A comunidade contava com a presença de escravos ou libertos como os da casa de Cloé (cf.1 Coríntios 1:11); Onésino, um escravo livre; Filemom seu dono e anfitrião das reuniões cristãs em sua própria casa (cf. Filemom 1). Lídia era uma negociante de púrpura (cf. Atos 16:14s). A participação feminina na vida comunitária foi de importância significativa dentro das casas, nas obras assistenciais, no apoio missionário e nas atividades eclesiais.


A lista segue mostrando que a mensagem do evangelho do reino estava unindo a sociedade congregando todos os povos, gentes, línguas e nações para Deus, quebrando barreiras sociais e ensinando princípios de igualdade e solidariedade. Não podemos delinear um perfil estatístico da constituição das comunidades paulinas, nem descrever plenamente o nível social do cristão paulino individualmente (MEEKS, 2011, p.165). No entanto, encontramos numerosos elementos convergentes, que nos permitem apresentar impressionante quadro desse grupo de pessoas que Paulo através de sua visão missionária conduziu a uma nova expectativa de vida tanto no âmbito social como espiritual.


A VIDA NA COMUNIDADE PAULINA

A vida na comunidade é, pois, um assunto de enorme relevância para compreensão de como se comportavam as pessoas nessa comunidade. Uma vez que naquele tempo uma comunidade cristã era comumente um pequeno grupo de pessoas que viviam numa grande comunidade pagã. Quase todos eram pessoas pobres, alguns escravos, embora houvesse cristãos nas classes altas, especialmente na comunidade de Roma.


Em toda parte havia muita coisa que distinguia um cristão dos vizinhos pagãos. Eles se tratavam mutuamente por irmãos em Cristo, e realmente agiam como irmãos. Cuidavam desveladamente dos órfãos, dos doentes, das viúvas, dos desamparados. Dentro da comunidade cristã todas as distinções foram abolidas. Escravos e senhores foram nivelados.


Segundo David J. Bosch (2002), havia entre eles a preocupação em assegurar que o pobre não padecesse com fome. Paulo começa falando a respeito da coleta para os santos pobres em Jerusalém. No final da perícope ele menciona uma condição que os impuseram a Barnabé e a ele. Na Carta aos Gálatas 2:10: “Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer.” A narrativa paulina da ênfase ao pedido dos líderes de que Paulo e Barnabé continuassem a lembrar-se “dos pobres”. É ilustrado pelo relato de Lucas de como estes dois levaram aos irmãos em Jerusalém a ajuda que a igreja de Antioquia reunira para o tempo da fome. A expressão “os pobres” pode denotar os cristãos mais pobres da comunidade de Jerusalém; por outro lado, pode designar também a comunidade como um todo (BRUCE, 2003).

Ajudar as pessoas carentes da comunidade primitiva era uma responsabilidade muito apreciada pelo coração de Paulo (cf. Gálatas 2:10; 2 Coríntios 8 e 9; Romanos 15:25; Atos 24:17). Se uma pessoa passava por dias maus ou por uma necessidade repentina, seus amigos se reuniam para juntar um empréstimo livre de juros para ajudá-la. A sinagoga tinha funcionários cuja tarefa era a de arrecadar dos que tinham e repartir entre os pobres. Frequentemente os judeus que tinham saído de seu país e tinham prosperado, enviavam mensageiros à Jerusalém com suas contribuições para o templo e para os pobres. Paulo não queria que a igreja cristã ficasse atrás dos judeus e pagãos em generosidade. Mas para Paulo, esta coleta para os pobres de Jerusalém significava mais que isto.


Era uma forma de demonstrar a unidade da comunidade. Era uma maneira de ensinar aos cristãos dispersos que não eram membros de uma congregação, mas sim de uma igreja, e que cada parte dela tinha obrigações para com o resto e era responsável por ele. A posição estreitamente congregacional estava longe da concepção paulina da comunidade. Era uma maneira de tornar efetivo o ensino prático do cristianismo. Ao organizar esta coleta, Paulo estava dando a seus conversos a oportunidade de traduzir em ação os ensinos de Cristo sobre a virtude cristã do amor. Assinalou-se que, nas distintas cartas e conversações, Paulo utiliza não menos de nove vocábulos distintos para descrever esta coleta para ajudar os pobres das comunidades:


a) Em primeira carta aos Coríntios, ele a chama logeia, que significa uma coleta extra (1 Coríntios 16:2). O vocábulo logeia, usado por Paulo, pode significar uma cobrança de imposto bem como contribuições voluntárias coletadas no culto para fins caridosos, pode-se supor que as comunidades paulinas em prol dos pobres em Jerusalém, em reconhecimento da posição da comunidade de Jerusalém (COENEN & BROWN, 2000).


b) Às vezes ele a chama uma charis (cf. 1 Coríntios 16:3; 2 Coríntios 8:4), é o vocábulo que descreve um dom ou uma dádiva outorgado livremente (VINE et al, 2003). O realmente belo não é algo que foi extraído de alguém, não importa quão grande seja, mas sim algo que se dá com o amor que inunda o coração do homem, embora se trate de algo pequeno. Devemos notar que Paulo, não estabelece sinceramente o que cada cristão de coríntio deve dar. Diz que devem dar de acordo com sua prosperidade. Uma soma que pode não ser nada para um rico, pode representar um grande sacrifício para um pobre.


c) Às vezes utiliza a palavra koinonia (cf. 2 Coríntios 8:4; 9:13; Romanos 15:6). O vocábulo Koinonia significa comunidade, e a essência da comunidade é compartilhar (COENEN & BROWN, 2000). A comunidade cristã está baseada no espírito que não pode guardar para si mesmo o que tem, mas sim considera todas as suas posses como coisas que se deve compartilhar com outros. A pergunta predominante não é: "O que guardar para mim?", mas sim: "O que posso dar?"


d) Algumas vezes utiliza a palavra diakonia (cf. 2 Coríntios 8:4; 9:1,12,13). Diakonia significa serviço cristão prático. Do vocábulo afim diakonos se deriva nossa palavra diácono. Segundo Lothar Coenen & Colin Brown (2000), o serviço no qual a narrativa paulina descreve tem como objetivo abranger o corpo e a vida, bem como o dinheiro e as posses, fica sendo um meio da edificação do corpo inteiro de Cristo (cf. Efésios 4:12). É por isso que Paulo chama os serviços dos dons carismáticos de diakonia: “Também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo”. (1Coríntios 12:5).


e) Uma vez utiliza a palavra hadrotes cujo significado é abundância ou generosa graça (cf. 2 Coríntios 8:20). Nessa perícope Paulo fala a respeito dos enviados da igreja que o acompanham para garantir que ele não administrasse mal a abundância que lhe foi confiada (VINE et al, 2003, p. 364). Paulo nunca teria desejado abundância para si mesmo. Estava de acordo com o que podia ganhar com o trabalho de suas mãos e o suor de seu rosto. Mas seu coração se alegrava quando contava com abundância para dar.


f) Algumas vezes Paulo utiliza a palavra eulogia, que neste caso significa generosidade ou benção (cf. 2 Coríntios 9:5). De todos os escritores neotestamentário, Paulo é quem emprega o conceito da benção do modo mais deliberado, dando-lhe toda a sua nova forma decisiva da generosidade (COENEN & BROWN, 2000). A benção aqui outorga como um dever inevitável, para ajudar os pobres e necessitados da comunidade.


g) Algumas vezes utiliza o termo leitourgia - “serviço” (cf. 2 Coríntios 9:12). Em grego clássico esta é uma palavra com uma nobre história. Nos grandes dias de Atenas havia cidadãos generosos que davam voluntariamente de seus bolsos para respaldar os gastos de algum projeto no qual estava comprometida a cidade. Podia ser para custear os gastos da preparação do coro para algum novo drama ou para que alguma equipe competisse para a honra da cidade nos jogos; podia utilizar-se para pagar, equipar e tripular um navio de guerra se a cidade corria perigo. A leitourgia originalmente abrange todos os tipos de serviços à comunidade e ao Estado aceitos, que uma pessoa estava obrigada a realizar por causa do tamanho da sua renda, mas que também podiam ser feitos voluntariamente (COENEN & BROWN, 2000). A oferenda cristã jamais teria que ser requerida; deveria ser voluntária. Deveríamos aceitar como um privilégio o ajudar de algum modo à comunidade de Deus.


h) Uma vez Paulo refere-se a esta oferenda como ellemosune (cf. Atos 24:17). Em grego significa esmolas (VINE, et al, 2003). O dar esmolas era tão importante para a ideia judia da religião que os judeus utilizavam a mesma palavra para dizer ofertar e justiça. Um judeu houvesse dito: "Como pode demonstrar um homem que é bom se não o fizer por meio de sua generosidade?"


i) Em último lugar Paulo utiliza a palavra prosphoras (cf. Atos 24:17). O interessante a respeito desse termo é que significa tanto oferenda como justiça (VINE et al, 2003). No sentido mais real o que se dá a um homem em necessidade é um sacrifício a Deus. O melhor de todos eles, depois do sacrifício do coração penitente, é a bondade demonstrada para com um de seus filhos com problemas ou necessidades.


A comunidade paulina não só ajuda os pobres como também é uma igreja que ajuda os de fora da comunidade judaica. John H. Elliott (2011), usando a narrativa veterotestamentária declara que mesmo para os estrangeiros que residiam entre os judeus havia a proteção conforme o texto da lei: “Tu deverás mantê-lo; ele deverá viver no seu meio como um estrangeiro residente” (Levítico 25.35) Era característico das comunidades ligadas a Paulo a abertura incondicional para as pessoas de fora e passa a perceber ecumenicamente que todo o mundo habitado necessita ser alcançado com o evangelho (BOSCH, 2002).


Observa-se que esta era uma comunidade aberta incondicionalmente para os de fora e sua unidade com outros povos e cultura em igualdade na vocação social fortaleceu o seu crescimento (BOSCH, 2002). Uma atitude incomum para o ambiente judaico, quebrando preconceitos de raças e costumes abrigando pessoas oriundas de diversos lugares numa atitude de aceitação. Cada cristão estava sendo motivado a partilhar dos bens que possuía buscando a manutenção da saúde física dos menos favorecidos que participavam da comunidade.


Na carta aos Romanos (cf. 13:9-20), Paulo motiva à vida comunitária por meio do amor não fingido, à fraternidade, o zelo pelo próximo. A motivação conta ainda com o apelo à vida benigna de se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram e ainda a unanimidade entre eles. Todo o argumento de Paulo é, antes, que o estilo de vida atraente das pequenas comunidades dá credibilidade à atividade missionária em que ele e seus colaboradores estão envolvidos. A responsabilidade primordial dos cristãos “comuns‟ não é sair e pregar, mas apoiar o projeto de missão através de sua conduta atraente e fazendo, pessoas de fora sentirem-se acolhidas em seu meio (BOSCH, 2002).


Então, a vida comunitária baseada no amor, proposta por Paulo, faz um apelo a não-divisão orientando a comunidade de corinto a não contenderem entre si e que ao contrário estivessem unidos no mesmo sentido e parecer: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.” (1Coríntios 1.10).


Outra indicação do perfil desta comunidade está na orientação dada aos Gálatas a que “levassem as cargas uns dos outros” (Gálatas 6:2). Uma proposta de extrema importância nas relações de fraternidade para com os membros mais frágeis. Também os efésios são orientados a andar com dignidade, “suportar uns aos outros em amor”, guardando a unidade por meio da paz através de um único corpo, sendo filhos da luz (cf. Efésios 4.5; 5.8). Os aspectos apresentados deste modelo de vida comunitária formularão a proposta da responsabilidade social de igreja hoje. Destaca-se então que havia entre eles:


1. Oportunidade de acesso para os de fora,


2. Alimento e cuidado para com os pobres,


3. Havia partilha,


4. Amor para aceitação entre as diferenças,


5. Fraternidade,


6. Proposta de não-divisão,


7. Unidade por meio de um único corpo, o de Cristo.


A missão principal do apóstolo Paulo foi tornar o evangelho de Cristo conhecido e aceitável entre os gentios. Muito embora, sua missão fosse à divulgação do evangelho e criar novas igrejas, ele ensinava e motivava as comunidades a cuidar uns dos outros, cuidar dos estrangeiros e principalmente dos menos favorecidos. Cada igreja deveria se preocupar com o evangelho do Reino, e segui o que seu Mestre ensinou quando esteve entre os homens a amar, a servir, ajudar e a cuidar uns dos outros até por que todos são iguais diante de Deus, e dessa forma estará realizando o seu papel que é ser uma comunidade solidária a necessidade dos menos favorecidos e Paulo em suas cartas sempre traz uma referência a koinonia das comunidades de que fundou.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BOCH, David J. Missão transformadora: mudanças de paradigmas na teologia da missão. São Leopoldo – RS: EST, Sinodal, 2009.


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KREUTZ, Ivo José. A paróquia: lugar privilegiado da ação pastoral da igreja. São Paulo: Edições Loyola, 1989.


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