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HIEROFANIA COMO MANIFESTAÇÃO DO SAGRADO

  • Foto do escritor: Antonio de Oliveira
    Antonio de Oliveira
  • 14 de dez. de 2023
  • 3 min de leitura

Hierofania é um conceito fundamental no estudo das religiões e das experiências sagradas, representando a manifestação do divino no mundo humano. Derivada das palavras gregas "hieros" (sagrado) e "phaino" (manifestar), a hierofania refere-se à irrupção do sagrado no espaço e no tempo ordinários, revelando sua presença de maneira tangível e significativa. Esse fenômeno transcende as fronteiras culturais e religiosas, sendo uma constante na busca humana por conexão com o divino.


A hierofania, como manifestação do sagrado, encontra expressão em diversas formas, desde objetos cotidianos a espaços físicos e momentos temporais. Cada uma dessas manifestações proporciona uma ligação única e tangível entre o divino e o mundo humano.


Hierofania em Objetos

A hierofania em objetos transcende a sua natureza comum, transformando-os em entidades dotadas de significado sagrado. Importante destacar que, mesmo passando por essa transformação, o objeto mantém sua essência original. A qualidade sagrada não reside intrinsecamente no objeto, mas é conferida a ele por meio do pensamento e sentimento religioso.


Ao contrário de ser um atributo da natureza empírica do objeto, o sagrado é colocado sobre ele, simbolizando o mundo não visto. A atitude provocada pelos objetos sagrados é marcada por um profundo respeito e reverência, refletindo a percepção de que esses objetos transcendem a esfera comum da realidade.


No contexto do culto religioso, a atenção não se volta exclusivamente para os símbolos ou objetos em si, mas para o poder que se difunde através deles. Esses poderes ou forças constituem a raiz da atitude religiosa de quem pratica, ou busca esses rituais. Notavelmente, os objetos sagrados e símbolos empregados nessas práticas são frequentemente extraídos da natureza viva ou são elementos comuns do cotidiano, como toalhas brancas, copo com água, sal, cinza, facas, pão, vinho, entre outros. Dessa forma, esses objetos, ao serem cheios de significado religioso, transcendem sua função cotidiana, tornando-se veículos que canalizam a presença do sagrado e inspiram uma profunda reverência durante as práticas rituais.


Hierofania em Espaços Físicos

A hierofania em espaços físicos revela-se na percepção qualitativamente distinta que os indivíduos religiosos têm desses locais em comparação com outros. O texto bíblico exemplifica essa distinção, quando o Senhor instrui Moisés a afastar-se e a remover as sandálias, pois o lugar onde ele está é considerado uma terra santa (Êxodo 3:5). A perícope de Êxodo evidencia a existência de espaços sagrados, caracterizados por uma qualidade marcante, enquanto outros são designados como não sagrados, carecendo de estrutura e consistência.


A noção de espaço sagrado não se limita apenas a templos religiosos formais. Pode estender-se a outros ambientes, como residências, salas de aula ou locais que tenham uma importância especial para o indivíduo. A hierofania, nesse contexto, destaca-se por demarcar um território específico em relação ao meio cósmico que o envolve, conferindo-lhe uma distinção qualitativa.


Assim, tanto os templos tradicionais quanto espaços mais pessoais, como a casa ou locais que testemunharam eventos significativos, podem ser considerados sagrados. A hierofania em espaços físicos transcende as estruturas formais, abraçando a ideia de que a sacralidade pode ser atribuída a lugares diversos, estabelecendo uma ligação especial entre o divino e o espaço físico que, por sua vez, molda a experiência religiosa do indivíduo.


Hierofanias em Espaços Temporais

As hierofanias em espaços temporais revelam que o tempo não é uniforme e pode, de fato, adquirir uma dimensão sagrada. Dentro da regularidade temporal do cotidiano, destacam-se intervalos sagrados, representados pelas festas. A celebração sagrada, por sua vez, consiste na ritualização de um evento sagrado ocorrido em um passado mítico.


Essas festas não são apenas celebrações, mas também marcam a conclusão de ciclos, sendo o ciclo anual o mais significativo. Este ciclo remete à origem, ao princípio, à criação e à cosmogonia inicial. A festa, portanto, não apenas recorda, mas atualiza o ato cosmogônico, desempenhando a crucial função de regenerar o tempo, conduzindo-o de volta à condição do tempo primordial.


Ao celebrar a festa, a pessoa não apenas revive simbolicamente o evento mítico, mas também experimenta uma renovação pessoal. O ato de celebrar a festa permite que a pessoa retorne ao estado de nascimento, com suas forças renovadas e intactas. Assim, a hierofania em espaços temporais, através das festas, não só conecta o presente ao passado mítico, mas também regenera o tempo, oferecendo uma oportunidade simbólica de renascimento e revitalização para aqueles que participam dessas celebrações rituais.


Sendo assim, pode-se inferir que a hierofania, seja em objetos, espaços físicos ou espaços temporais, oferece uma variedade de manifestações do sagrado, proporcionando aos indivíduos meios tangíveis e experiências imersivas para explorar e expressar sua espiritualidade. Cada uma dessas dimensões contribui para a compreensão e vivência da transcendência no contexto humano.

 

 
 
 

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