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O SAGRADO COMO BASE DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA

  • Foto do escritor: Antonio de Oliveira
    Antonio de Oliveira
  • 19 de dez. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 20 de dez. de 2023



Na vivência da experiência religiosa, um poder singular e completamente distinto penetra na existência da pessoa. Diante desse fenômeno, a reação inicial é de surpresa, seguida, subsequentemente, pela aceitação pela fé. A experiência religiosa não se limita a declarações racionais ou princípios éticos. No âmbito do divino, há um aspecto indescritível, percebido pelo sentimento como uma realidade sagrada, um mistério ao mesmo tempo, temível e fascinante: "Eu temo isso e, ao mesmo tempo, anseio por isso" (Santo Agostinho). A conexão com o sagrado desperta no crente uma gama de emoções. Esses sentimentos não são gerados pela consciência, mas representam o efeito subjetivo da presença, dentro do eu, de uma realidade que transcende o próprio eu: o numinoso (O numinoso descreve a presença ou manifestação do sagrado, do divino ou do transcendental).


Conforme a perspectiva de Rodolfo Otto (2007), o numinoso representa a potência absoluta e a alteridade majestosa. Na sua presença, o crente se percebe como pó e cinza; é um enigma oculto, extraordinário, apreendido pelo sentimento religioso, e não pela razão. É um mistério imponente que evoca emoções de temor e tremor, sendo associado à ira ou indignação divina, servindo como fundamento para o conceito de justiça divina. Este mistério revela uma energia absoluta, vitalidade e paixão. É simultaneamente um enigma fascinante que atrai pela manifestação de amor, misericórdia, piedade e conforto. A expressão do numinoso tem o poder de despertar sentimentos de maravilha e êxtase.


A experiência religiosa constitui um encontro com o mysterium tremendum (A expressão "mysterium tremendum" é um termo cunhado por Rudolf Otto para descrever uma dimensão específica da experiência religiosa. O "mysterium tremendum" refere-se à qualidade fascinante, aterrorizante e misteriosa da presença do sagrado ou divino). Ao entrar em contato com esse mistério, a alma experimenta uma sensação de ser criatura, um sentimento que se assemelha à sombra do medo, decorrente da natureza do numinoso como um objeto externo que emana uma superioridade esmagadora de poder. O numinoso é tão envolvente que cativa e silencia a alma humana que a vivência.


Na experiência religiosa, um processo peculiar se desenrola, iniciando-se com um sentimento de terror demoníaco, gerado pela imponência do sagrado. Esse terror abrange o receio dos deuses, concebendo um ser divino como juiz vigilante que observa e pune as ações humanas. Este estágio evolui para um sentimento de devoção, desencadeando um comportamento moral e um comprometimento com as expectativas da divindade em relação ao crente. A adoração culmina com o crente em êxtase diante da divindade, gerando, como resposta, uma conexão de amor com todas as criaturas.


Indivíduos, em suas experiências religiosas, podem situar-se em qualquer uma dessas fases. Muitos atribuem as causas de suas adversidades, como doenças ou desafios, a alguma entidade sagrada. Essa prática proporciona uma sensação de libertação da necessidade de confrontar suas próprias fragilidades. Ao transferir a responsabilidade pelas calamidades de suas vidas para o sagrado, essas pessoas acreditam que o mesmo sagrado pode solucionar seus problemas.


O conceito de um "Espírito mau" como origem do mal e um "Espírito bom", de origem divina, como solução para o mal, é comum nesse contexto. Na experiência do sagrado, as pessoas buscam sentido para a vida, compreendendo seus aspectos adversos e benéficos. Isso cria uma dinâmica em que, ao evitar ou não conseguir enfrentar suas fragilidades e resolver seus próprios problemas, podem responsabilizar o sagrado por seus fracassos. Essa abordagem permite que permaneçam resilientes mesmo nas circunstâncias mais difíceis.


Dessa forma, por meio da vivência religiosa, o sagrado permeia objetos, indivíduos e situações, conferindo-lhes uma natureza sacra. Uma vez que esses elementos estão sob a influência do sagrado, ninguém assume responsabilidade por eles, pois o sagrado foge ao controle humano, e interferir em seu curso natural é desaconselhado. A partir dessa perspectiva, a experiência religiosa pode legitimar tanto a manutenção de uma situação opressiva (como sendo a vontade de Deus), quanto a promoção da luta por mudanças sociais (quando a situação não está conforme a vontade divina e, portanto, deve ser alterada). Sobressai-se a premissa fundamental de que compreender efetivamente um grupo social requer a análise de seu perfil religioso. Não se trata de uma anomalia psicológica ou um acidente histórico descartável, mas sim de um fenômeno social integral e repleto de significados. Por conseguinte, a sociologia da religião, especialmente a partir das contribuições de Émile Durkheim e Max Weber, tornou-se uma condição sine qua non para a compreensão da dinâmica social.


Referências Bibliográficas

 OTTO, Rudolf. O Sagrado: os aspectos irracionais na noção do divino e sua relação com o racional. São Leopoldo: Sinodal/EST; Petrópolis: Vozes, 2007

 

 
 
 

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